7. O Adamastor. A culpa foi do Camões. No canto V de "Os Lusíadas", o nosso Épico fala do aterrador gigante do cabo das Tormentas (ou Cabo da Boa Esperança, como lhe chamou D. João II, após a passagem de Bartolomeu Dias) que afundava naus sem dó nem piedade e se desfazia em lágrimas depois da maldade feita. Primeira dica: as "lágrimas" eram as águas salgadas e revoltas da assanhada confluência do oceano Atlântico com o oceano Índico, a sul da Cidade do Cabo, na África do Sul.
É sabido, Luís de Camões foi buscar o nosso Adamastor à mitologia greco-romana. O Poeta queria representar as grandes forças da natureza, o poder dos elementos, as violentas tempestades que, naquela zona do mundo, tentavam impedir o avanço heróico dos Portugueses rumo à Índia. E pintou-as como um mostrengo vigilante e vingativo, espécie de porteiro de discoteca que não deixava passar ninguém: De disforme e grandíssima estatura, / O rosto carregado, a barba esquálida, / Os olhos encovados, e a postura / Medonha e má, e a cor terrena e pálida, / Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos.
Mas era apenas um cabo, senhores, nem sequer sargento. Um cabo e geográfico. Por sinal, bem difícil de dobrar e com muitos naufrágios para contar.
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