Um touro grande, cor da treva, de aguçadas pontas ligeiramente recurvas. Chamava-se Azulão, como o pássaro do mesmo nome, que também e negro. Talvez o apelido lhe viesse dos reflexos espelhantes do pêlo à luz do sol, que às vezes davam levemente a impressão do azul. Animal bonito e, sobretudo, famoso. Conhecia-o de nome o sertão todo, como o mais terríivel e mocambeiro novilho dos que o coronel Paulo deixava amontados pelas senotas, a fim de prometer prêmios aos vaqueiros que os trouxessem mortos ou vivos, quando o tempo, a perseguição e a liberdade os tornavam verdadeiras feras.
Todos os anos, após a ferra do gado, o grande fazendeiro escolhia um novilhote entre os mais possantes e dava ordem para abandoná-lo nas catingas aos seus instintos. O animal ficava selvagem e ele tentava a vaqueirama das ribeiras próximas a dar-lhe caça. O vaqueiro que lhe trazia a "bassoura" do barbatão morto a tiros, ou o próprio pegado a laço derrubado a "mussica" recebia cinco patacões de velha prata portuguesa e divertia-se em grande festa, na fazenda, durante a qual os melhores cantadores o louvavam ao pé da viola. Havia quarenta anos que o coronel se dedicava a esse folguedo, começado logo que herdara as terras do pai, aos trinta de idade. Mas nunca espicaçara os sertanejos dos arredores atrás de bicho mais terrível que o Azulão.
"Alma Sertaneja", Gustavo Barroso
(Gustavo Barroso nasceu no dia 29 de Dezembro de 1888. Morreu em 1959.)
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