O poeta
Sou mais pobre do que Job.
Sou mais rico do que Salomão.
Sou um poeta. Sou o maior de todos os descobridores.
Sem navio, sem bússola e sem leme,
descubro istmos e estrelas.
Posso ser amado e odiado, condenado e insultado,
Sem odiar, sem condenar, sem insultar.
Sei tão somente amar e perdoar.
Não tenho castelos, nem rosas, nem amores,
Mas, em misterioso sonho,
Ora passeio no carro de Salomão,
Ora durmo sobre as cinzas de Job.
Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna
Das paisagens de Deus;
adormeço num som,
desperto numa cor,
morro afogado no mar de uma inesperada estrela.
Para mim não há, nem ontem, nem amanhã, nem depois,
Vida e morte, alegria nem dor.
Para mim o dia é uma eternidade.
A eternidade o menor tempo;
Para mim o tempo não existe,
Pois rasguei todos os calendários do mundo.
Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena
E pureza em meu coração,
Caminharei em firmes passos para o céu de Cristo ou de Maomé.
Deolindo Tavares
(Deolindo Tavares nasceu no dia 21 de Dezembro de 1918. Morreu em 1942.)
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