segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Onomástica, toponímia & outros nomes esquisitos 10

                                                                                                                           Foto Hernâni Von Doellinger

A diferença entre panache e panachê é gasosa. Auto-Garage Avenida, gosto deste nome assim. Lembra-me Monsieur Hulot em "Trafic", mas não é por isso. Sou um tipo démodé: gosto de garages, de equipes, de cabines, de omoletes, de camionetes, de bicicletes - palavras que eu certamente não uso, que já não se usam (há quem não tenha sido informado, por exemplo o comentador Miguel Sousa Tavares), mas que mantêm um certo e determinado je ne sais quoi. Esta preciosidade, Auto-Garage Avenida, sobrevivia em Guimarães há três anos pelo menos, muito convenientemente na Avenida Dom Afonso Henriques, logo abaixo do que então eram os restos mortais do Teatro Jordão. Terá tido também melhores dias a garage, mas o panache ainda lá estava. E eu disse panache, não disse panachê. Pode parecer a mesma coisa, mas há uma leve diferença...

Faz-me um colchete. Há quem diga que não há diferença nenhuma entre um broche e um colchete, que são uma e a mesma coisa. Por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa (7.ª edição) da Porto Editora, que é o que tenho aqui sempre à mão, considera-os, ao broche e ao colchete, sinónimos. Eu, com o devido respeito, discordo. Para mim, tirando o che que ambos ostentam, não há comparação possível entre um broche e um colchete. Um broche é um broche e um colchete até pode ser um parêntese recto. Um é uma coisa e o outro é, às vezes, um empecilho. Só quem não passou por eles é que se confundirá. Sei do que falo. Também sei de salas de costura, não cuidem, mas, vamos lá, admitindo a paridade, se vosselências forem gramáticos como eu e quiserem tirar a questão a limpo, se tiver que ser um ou outro, se pretenderem escrutinar a minha preferência, perguntem-me então sem tibiezas: broche ou colchete? E eu digo logo e sempre: broche. Broche, evidentemente.

P.S. - Gramático era o que me chamava o Empregado do Arquivo quando, por azar, calhávamos no mesmo autocarro. O Empregado do Arquivo, assim autodenominado, meu camarada de Primeiro de Janeiro, morava, se não me engano, no Hospital Conde Ferreira e era filho do poeta Alberto de Serpa, que lhe batia.

O bebé que era sedentário, mas a mãe não queira. Estacionaram o carro junto à praia. A mulher saiu, morena e roliça, num refrescante vestido branco comprido à mãe-de-santo. O homem foi ao banco de trás buscar o filho e pousou-o no chão. O miúdo não gostou. Era ainda um bebezinho dos primeiros passos que quase não se tinha em pé. Se calhar por isso, sentou-se no empedrado, abriu as goelas e chorou o seu protesto. A mãe procurou por quem passava, era eu, e ralhou pedagógica e mansamente ao petiz, naquele português doce do Brasil: - Rodinei Uaxinton, chega! Que sedentarismo, minino!...

Desnecessidades da língua portuguesa. Já repararam na quantidade de palavras da língua portuguesa que usam escusadamente um eme final? O eme que se escreve mas não se lê. Podia passar aqui o dia inteiro a dar exemplos uns atrás dos outros - abrevio porém dando seis, como os dedos de uma mão mais um: rodage, vantage, viage, sabotage, calibrage, portage, arage, garage. E afinal são oito, os dedos de uma mão mais três da outra. Para que é que estas palavras precisam do eme no fim se o eme no fim não se diz? E logo a letra eme, a das três perninhas, tantas perninhas, menos duas apenas do que as cinco patas do cavalo.
O eme, faço notar, que ainda por cima é a letra minúscula mais obesa do nosso abecedário. Um escândalo! Uma evidente desnecessidade e um tremendo desperdício de espaço num país com somente noventa e dois mil quilómetros quadrados. Mas isto os da troika não viram, e aos do acordo ortográfico a coisa também lhes passou ao lado. Salta aos olhos que estes doutores da mula ruça não andam de metro e muito menos de camioneta. Não falam com pessoas, nunca foram a Fafe. Ou, se calhar, faltou-lhes corage para acabarem de vez com a coisam...

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