quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Onomástica, toponímia & outros nomes esquisitos 11

                                                                                                                                     Foto Hernâni Von Doellinger

Paroles, paroles, paroles. Dizem-me que as palavras já não valem nada. Mentira. As palavras são cada vez mais poderosas, dominam as nossas vidas. As palavras até tomaram o lugar dos afectos, dos carinhos. Reparem: antigamente davam-se beijos, davam-se abraços; agora dizem-se beijos, dizem-se abraços. O gesto ancestral e puro foi substituído pela retórica etiquetada, o contacto físico acabou vergado ao esboço da intenção - à simulação. À dissimulação?
Dizemos "Beijinhos", dizemos "Abraço", e assim ficamos. Pelas palavras. Beijos e abraços são só vocábulos. Mantemos uma distância alegadamente higiénica entre nós, os alegados amigos uns dos outros. Dizemos. Ao telefone, por escrito, ao vivo na pressa da rua, na patetice dos emoticons. Dar a sério (à séria, se lido em Lisboa) é que não. Ninguém dá nada a ninguém - nem sequer beijos, nem sequer abraços. Fazemos votos de. "O que lhe estimo é um beijo", "Desejo-lhe um excelente abraço"...
É. Olhem bem à volta: as palavras estão em alta, navegam de vento em popa. As palavras. O que verdadeiramente está em crise é a palavra, a palavra singular e definitiva, essa vaga memória de uma honra démodée que se arrasta pelas ruas da amargura - abandonada, pobre, cega e nua. Mas isto, claro, sou eu a dizer e são apenas... palavras, palavras, palavras.

Desce, desce, balão desce.
- Ó patego, olha o balão! - alguém disse.
- Aonde?, aonde?... - perguntou o patego.  

É Coura, estúpidos! Todos os anos a mesma merda, uma contumaz manifestação de ignorância e estupidez. Desde 2011 que ando aqui a pregar no deserto, a agredir o invisual, mas não adianta nada, chegamos à beira do Festival de Paredes de Coura e a asneira desaba com estrondo. São os blogues, os sítios de venda de bilhetes, as televisões, os jornais, jornalistas e simpatizantes que insistem em dizer e escrever que o evento decorre nas margens do rio "Tabuão". Dasse!, dasse!, dasse!, três vezes dasse! Eu já disse que não existe nenhum rio "Tabuão". O que há é um sítio (isto é, um local) chamado Taboão (Taboão com ó) junto ao rio Coura. É a praia fluvial do Taboão. E é na praia fluvial do Taboão (Taboão com ó), nas margens do rio Coura, que se realiza desde 1993 o Festival de Paredes de Coura. De uma vez por todas, por favor, meus pedaços-de-asno: o rio Coura não se chama rio "Tabuão", nem sequer rio Taboão - chama-se rio Coura, como o próprio nome indica. Por isso é que Paredes de Coura se chama Paredes de Coura e não Paredes de Taboão.
Vamos lá então recapitular a matéria dada durantes os últimos seis anos, vamos à geografiazinha: o rio que passa em Paredes de Coura chama-se rio Coura. É o mesmo rio que, mais abaixo, passa em Vilar de Mouros - que também tem festival, este ano outra vez -, e continua a chamar-se rio Coura. O Coura, rio, nasce na serra da Boalhosa, na lagoa da Chã de Lamas e na serra de Corno de Bico, fazendo um percurso de cerca de 50 quilómetros até desaguar na margem esquerda do rio Minho à porta do mar. Banha os concelhos de Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha. Passa pelas freguesias de Formariz, Paredes de Coura, Rubiães, São Martinho de Coura, Covas, Vilar de Mouros, Venade, Vilarelho, Seixas e Caminha. Percebido? Agora vamos escrever isto 50 vezes no quadro, seus orelhas de burro!...

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