Pais de Família!
Atendei e vereis o maior de quantos crimes se tem visto no mundo! Vereis uma filha matar a sua mãe, porque esta lhe não deixava fazer o quanto desejava.
Vereis como essa filha corta a cabeça da sua mãe, e os braços, e as pernas, e vai pôr cada pedaço de corpo da sua mãe em diferentes lugares, para que ninguém conhecesse o cadáver da morta, nem a mão que a matara e despedaçara. Vereis como a matadora da sua mãe, da sua mãe, ó pais de famílias, da sua mãe, que a trouxera nas entranhas, que lhe dera o alimento dos seus peitos, que a criara ao seu lado com beijos e afagos, que tirara o pão da sua boca para o dar à sua filha, que fora talvez pedir uma esmola para que a sua filha não tivesse fome, e não desse seu corpo em troca de um bocado de pão! Vereis como esta filha sem alma, sem medo de Deus, sem temor das penas do inferno, é descoberta como matadora da sua mãe, por um milagre, pela providência de Deus! Vereis aquela mulher com alma de tigre comer com toda a vontade e contentamento, ao pé da cabeça ensanguentada da sua mãe, e responder quando lhe perguntam se é aquela a cabeça da sua mãe.
- Sim! - disse ela - essa é a cabeça da minha mãe!
E continuou a comer.
"Maria! Não Me Mates, Que Sou Tua Mãe!", Camilo Castelo Branco
(Camilo Castelo Branco nasceu no dia 16 de Março de 1825. Morreu em 1890.)
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