Casava-se a Celina, filha mais velha da D. Adozinda Ferreira, quarentona bem conservada, e todo o velho e pequeno hotel familiar para convalescentes, os Abelos ares!, debruçado à beira do morro de Santa Teresa, como a mirar a esplêndida vista da cidade, em baixo, aparecia rejuvenescido e embelezado pela abundância de festões de flores e galhadas verdes, com que o iam enfeitando alegremente algumas criadas vestidas com garridice espaventosa, rindo com os hóspedes mais íntimos que as ajudavam.
- Ponha as dálias encarnadas aqui, seu Juvêncio... É para casarem com os crisântemos brancos...
- Casarem... casarem... Você, Crescência, não tem outra idéia na cabeça senão a de casamento...
- Pois então?!..., respondia a primeira, com um muxoxo de mulatinha espevitada, o dia é mesmo para se pensar nisso. Bem que eu quisera estar no lugar de D. Celina, mas... com outro noivo, já se vê... Olhem lá...
Um vulto de rapaz ladeava solitariamente os maciços espessos do jardim, como procurando fugir à atenção, e uma gargalhada esfuziou no grupo, que depressa fingiu mergulhar mais ativamente nos preparativos da ornamentação da casa, em cujas janelas baixas já se balouçavam frágeis cadeias cheirosas, invenção da Crescência, atravessando as abertas em forma de bambolins floridos. Um aroma quente de folhas e pétalas dava ao ambiente um cunho de festa. E já um tapete esmeraldino se estendia no solo, em frente à porta da sala térrea, em cujo recinto ainda vazio de convidados branquejavam panos de crochet forrando os móveis usados, enquanto, de cada mesinha, de cada étagère,dos dois consolos antigos, do tampo do piano de armário, partia a nota violenta dos grandes ramos de rosas, de dálias, de begônias e palmas de Santa Rita, transbordando de todas as jarras da família, ali reunidas como principal recurso decorativo.
"A Luta", Carmen Dolores
(Emília Bandeira de Melo, que usou o pseudónimo literário de Carmen Dolores, nasceu no dia 11 de Março de 1852. Morreu em 1910.)
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