Como a minha sogra engana o sono
A minha sogra deixou de se deitar após a digestão do almoço
porque senão, diz ela, depois não dorme nada à noite. Portanto dorme
toda a tarde no sofá da sala em frente à televisão ligada.
Com uma curta pausa para o lanche, evidentemente.
Momento de Justiça
Eu não sabia que havia um filme chamado "Momento de Justiça". Soube pela televisão que há. E são quatro: "Momento de Justiça 1", "Momento de Justiça
2", "Momento de Justiça 3" e "Momento de Justiça 4" - todos lamentáveis.
O velho contador de anedotas
Levava um banquinho e sentava-se em Cima da Arcada, de guarda-sol
aberto, se
fosse o caso, e um caderninho de folhas quadriculadas, sempre. Espertava
os olhos cansados, via sair,
e tomava nota. Saíam do Mário da Louça, do Damião Monteiro, do Café
Império, do Foto Jóia, do Talho, da Caixa, do Martins
da Avenida, do Rabeca, da Câmara, da Juditinha, do Sanica, do Casinhas,
da Senhora Eufémia, do Américo das Bicicletas, do Alfredo
Sapateiro, das Lobas, do Club, da Pacata, da Loja Nova, da Casa da Cera,
dos Armazéns Cunha,
do Banco. Saíam, e ele registava, mão trémula porém infalível.
Analfabeto de nascença, utilizava a
técnica do Miguel Cantoneiro, ecumenicamente adaptada: uma cruzinha para
os pobres e desiludidos como ele, uma cruz para os menos mal e um cruzeiro para a dúzia e meia de cagões
locais. À noite, em casa, depois da sopa e antes do terço, fazia a soma,
por escalões, comparava com os dias anteriores, as contas todas
certinhas, noves fora nada, anotava as variáveis e arquivava tudo no
saco de serapilheira debaixo da cama. Dizia que era contador de
anedotas.
Pérolas a porcos
Era tão rico, tão rico, que dava pérolas a porcos. Palavra de honra: pérolas a porcos e opalas a vacas leiteiras.
Maricas
Ficava-lhe mal como homem. Só andava com mulheres.
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