Comer com os olhos (e boca calada)
Eram dois homens, já na segunda metade da idade. Um deles fica à porta, 
enquanto o outro entra no restaurante. O proprietário, que o recebe no hall,
 pergunta-lhe "É para almoçar?" e o homem responde "É para dar uma vista
 de olhos". O dono do estabelecimento, embora lhe apeteça, não 
disparata: "Faça favor. Isto não é nenhum museu, mas não paga nada"...
Um ou dois minutos depois, o homem sai. Olha para o amigo que o espera, 
não falam, e desandam dali no mesmo passo descomprometido com que tinham
 chegado. Deixo de os ver. Fico a imaginar que vão a outro restaurante, 
fazem a mesma cena mas trocam de papéis. Assim, à vez, vão comendo com 
os olhos e já ficam almoçados. Melhor do que ir mastigar o papo seco de 
nariz amarrotado contra a montra do talho...
P.S. - Publicado originalmente no dia 14 de Novembro de 2011. Lembram-se desses tempos em que os portugueses iam perdendo o hábito de comer com a boca?... 
Um supositório para todos
Quitério teve a ideia derivado àquilo dos livros escolares usados. Uma ideia de alcance mais profundo, a de Quitério, porém de momento reservada, e muito bem!, a esse grupo de trabalhadores de elite que são os deputados da Nação. A proposta é a seguinte: que os nossos parlamentares, em caso de doença e
 necessitando de tratamento - longe vá o agoiro -, passem a servir-se de um supositório colectivo e 
reutilizável, unzinho, atado com uma guita, como a bala do Raul Solnado... 
O meu benfeitor voltou a atacar
Mais uma vez, hoje: metido sorrateiramente na caixa de correio da porta de casa, um prospectozinho 21x10 em couchê
 fatela escrito dum lado só. Pergunta, em letras garrafais, vermelhas, 
"Precisa de dinheiro?" e, ainda enorme mas a preto, "Tem imóvel?"... E 
passa a explicar, em caracteres mais recatados: "Mesmo com penhoras, 
dívidas fiscais ou problemas bancários, temos a solução! Contacte-nos. 
Resolvemos em 48 horas. Análise gratuita". Seguem-se dois números de 
telemóvel, e mais nada, nem um nome, uma morada, uma marca, pois, como 
diz o Evangelho, "Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o
 que fez a direita, a fim de que a tua esmola fique em segredo" (Mateus 
6:3-4). Ainda há gente boa, graças a Deus...
P.S. - Da primeira vez chamei-lhe A toda a parte chegam os vampiros. Para ouvir, Zeca Afonso, sempre.
Ismã, o homem da sorte
- E depois havia um gajo que, onde aparecesse, corria sempre tudo bem...
- Quem era?
- Um gajo, um tal... tenho aqui o nome debaixo da língua, um tal... um tal...
- Um tal Ismã?... 
 
A minha famosa receita de Tomates aux gésiers de lapin
Livre de gorduras e lave em duas
 águas, uma pode ser das Pedras, as  moelas de coelho. Meta as moelas de
 coelho numa marinada feita com sumo  de pepino nacional, vinagre 
balsâmico, azeite de trufa, mel de  rosmaninho, gengibre, flor de anis, 
flor de sal, flor-de-lis,  flor-de-lótus e flor-de-ferrari. Deixe a 
repousar esta marinada dentro  de uma embalagem para ovos de codorniz 
enquanto o ministro da Finanças  conta até dez, que é aproximadamente 
durante duas horas e um quarto. Os  ovos de codorniz deviam ter sido 
tirados antes, agora desfaça-se ao  menos das cascas. Lave muito bem os 
tomates, corte um chapeuzinho numa  das extremidades e limpe-os de todas
 as sementes e nervuras internas.  Introduza as moelas de coelho nos 
tomates, misturando-as com uns  pozinhos de queijo com o nome mais 
arrevesado que encontrar no  supermercado. Pegue nos tomates e coloque o
 chapeuzinho, que vai  adornar, de lado, com um pequeno cartão a dizer 
PRESS. Leve os tomates  ao forno durante 180 minutos a 15 graus. 
Excelente. Está pronto. Retire  do forno e deite ao lixo. Aqueça a 
feijoada que sobrou de ontem, encha o prato até à borda e... seja feliz!
P.S. - Receita originalmente publicada em Sei de sítios,
 no dia 9 de Setembro de 2011, era então ministro das Finanças o 
vagaroso Vítor Gaspar. Como têm muita procura, mais moelas de coelho aqui, aqui e aqui. 
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