sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Joaquim Xavier da Silveira 2

Porque amo a noite

           Sabes que é amor sem ter em troca
           Um olhar de mulher banhado em fogo?
           É no leito a vigília, e na alma o inferno.
           É blasfémia do peito em desafogo! 

Vivo entre prantos, delirante sempre
Sem ter uma alma que me vote amor!
Para não zombarem do infeliz que sofre
Espero a noite - que me escuta a dor.

Meu deus, que vida! Quando os risos da alma
Deviam todos afagar-me o rosto
Cercam-me as sombras e minha alma é triste
Como o horizonte quando o sol é posto.

Este era o tempo - que da primavera
Para mim deviam rebentar as flores,
E no entanto sinto o sol do estio
Crestar-me as crenças, abrasar-me em dores!

E como eu sofro, porque choro embalde,
Pobre, sozinho, sem consolo achar,
Lamento o dia e esperando a noite
Maldigo a sorte que me faz chorar!

E quando durmo - na minha alma passa
Formosa Vésper - (que gentil visão!)
Creio um momento na ventura em sonhos
Desperto ai louco!! topo a solidão!

Oh que martírio! que destino o meu
Que até sonhando desgraçado sou!
Que triste fado! nunca a luz das crenças
Dentro em minha alma um raio seu coou!

Joaquim Xavier da Silveira 

(Joaquim Xavier da Silveira nasceu no dia 7 de Outubro de 1840. Morreu em 1874.)

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