sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Franklin Távora 3

O governador Félix José Machado de Mendonça Eça Castro e Vasconcelos, que chegara a Pernambuco em 7 de outubro de 1711, depois de ter passado alguns dias em Olinda, mudou a sua residência para Recife, com grande desagrado e desconfiança dos nobres, porque a florescente vila era a praça forte da burguesia portuguesa, que aspirava à posse e mando da capitânia.
Posto que já muito aumentado, não podia no lustre e número dos habitantes competir o Recife com a opulenta e populosa Capital, que, do alto do seu orgulho, olhava com desdém de soberana para a humilde vizinhança a quem hoje paga feudo de vassalagem. Eram poucas as ruas, quase nenhum os estabelecimentos públicos. Maurício de Nassau fizera surgir, da ilha pitoresca, aos sobrados, palácios e outras obras, cujos restos ainda atestam a grandeza do gênio batavo. Mas todos estes edifícios e estabelecimentos, bastantes para certificar vinte e quatro anos de domínio fecundo de um grande povo, pouco eram em comparação às ruas sem conta, aos templos suntuosos, às habitações aristocráticas com que dos seus outeiros descia até os vales, por entre pomares e jardins esplêndidos, a Olinda dos poetas, que nascera de um conflito de prazer das vistas de Albuquerque com as risonhas perspectivas que de cima desses outeiros se descortinam, como nascera Vênus do ajuntamento do sangue do céu com as escumas do mar.
A preferência do governador feriu a nobreza nos seus foros anciãos, e a cidade na sua justa e legítima vaidade. Todavia os nobres teriam curtido em silêncio este dobrado desdouro, se  em 18 de novembro, quarenta dias depois da chegada de Félix José Machado, não fossem escandalizados com a nova inauguração do pelourinho, causa primordial da guerra extinta. Não podendo mais reter, em presença do novo desacato, os seus ressentimentos mal ocultos, os mais importantes membros da nobreza pernambucana procuraram o bispo D. Manuel Alves da Costa, de cujas mãos o governador recebera as rédeas do governo, para o consultarem sobre o procedimento que deviam ter.


"Lourenço", Franklin Távora 

(Franklin Távora nasceu no dia 13 de Janeiro de 1842. Morreu em 1888.)

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