O povoado em que eu nasci era um dos lugarejos mais pequenos, mais pobres e mais humildes do mundo. Ficava à margem do Itapicuru no Maranhão, no alto da ribanceira do rio.
Uma ruazinha apenas, com umas vinte ou trinta casas, algumas palhoças espalhadas pelos arredores e nada mais. Nem igreja, nem farmácia, nem vigário. De civilização a escola, apenas.
A rua e os caminhos tinham mais bichos do que gente. Criava-se tudo solto: as galinhas, os porcos, as cabras, os carneiros e os bois.
Vida pacata e simples de gente simples e pacata. Parecia que ali as criaturas formavam uma só família. Se alguém matava um porco, a metade do porco era para distribuir pela vizinhança. Se um morador não tinha em casa café torrado para obsequiar uma visita, mandava-o buscar, sem cerimônia, no vizinho.
A melhor casa de telha era a da minha família, com muitos quartos e largo avarandado na frente e atrás. Chamavam-lhe a Casa Grande por ser realmente a maior do povoado.
Para aquela gente paupérrima, éramos ricos.
"Cazuza, Memórias de Um menino de Escola", Viriato Correia
(Viriato Correia nasceu no dia 23 de Janeiro de 1884. Morreu em 1967.)
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