Hipogrifo
Resfolega o hipogrifo,
indômito, batendo
no asfalto as patas de ouro;
e os olhos de águia adusta,
sobre as nuvens e além
dos sóis ovante erguendo,
já no azul a cabeça em
fogo barafusta.
O éter transpõe, afiando as
asas, belo e horrendo,
e haurindo a Vida e a Graça e
a Idéia eterna e augusta,
ó como eu nesse arroubo
insofrido compreendo
que ao estranho hipogrifo o
gesto astral não custa.
No solo os áureos pés, no
empíreo em glória a fronte,
terras, mares e céus, de
horizonte a horizonte,
mede, calcando o pó, e os
pátamos transcende.
Brotam fráguas de luz na
poeira dos seus rastros
e nas landas glaciais e
tristes, ermas de astros,
novas constelações o seu
hálito acende.
"O Hipogrifo, São Sebastião e Outros Poemas e Prosa", Severiano de Resende
(Severiano de Resende nasceu no dia 23 de Janeiro de 1871. Morreu em 1931.)
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