quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Judith Teixeira

A minha amante

Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
nos meus sonhos de prazer…
 

De madrugada, logo ao despertar,
há quem me tenha ouvido gritar
pelo teu nome…

Dizem - e eu não protesto -

que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
para te esquecer…
E que de noite pelos corredores,
quando vou passando para te ir buscar,
levo risos de louca no olhar!

Não entendem dos meus amores contigo -
não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa
dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
o meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda
o meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!


"Poesia e Prosa", Judith Teixeira

(Judith Teixeira nasceu no dia 25 de Janeiro de 1880. Morreu em 1959.)

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