O
burguês é redondo
O burguês é redondo,
mesmo
que sejo quadrado,
mesmo
que seja comprido
ou
curto.
Mesmo que seja alto ou baixo,
magro
ou gordo,
corado
ou pálido,
com
bigodes ou sem bigodes,
é
redondo.
Quer se deite com as galinhas
quer
passe as noites nas boates,
quer
amanheça no jogo,
é
redondo.
Quer frequente as igrejas
ou a
casa dos mulheres,
quer
tome coca-cola ou uísque,
é
redondo.
Quer seja comunista por esnobisrno,
ou
fascista por egoísmo,
ou
liberal por atavismo,
democrata-cristão,
democrato-mação,
trabalhista,
socialista, progressista,
o
burguês é redondo.
A sua
alma é redonda
tem a
circunferência das moedas
e a
forma das laranjas.
Seu coração é redondo e liso,
redondo
o seu estilo, e o seu juízo,
a sua
preocupação,
a sua
admiração,
a sua
paixão.
Tudo escorrega nele.
Tudo
escorrega,
nada
pega.
Sementes de ideal, de sonho, de heroísmo,
tudo
deslisa em seu redondo egoísmo,
nada
lhe fica, nem na superfície.
Redondo rola e facilmente passa,
desatento
aos clamores da desgraça,
indiferente
às dádivas da Graça...
Porque em tudo, e em face de tudo,
nas
crises, nas revoluções, na guerra ou na paz,
com
medo, ou sem medo,
consciente
ou inconsciente,
procurando
saber apenas quanto ganha
ou
quanto goza,
o burguês,
por hereditariedade,
ou por
fatalidade,
ou por
comodidade,
é
redondo, redondo, redondo...
"Poemas do Século Tenebroso", Ezequiel
(Plínio Salgado, que usava o pseudónimo de Ezequiel, nasceu no dia 22 de Janeiro de 1895. Morreu em 1975.)
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