Arrependo-me de a meter num romance 
O poema tem mais pressa que o romance, 
 Asa de fogo para te levar: 
 Assim, pois, se houver lama que te lance 
 Ao corpo quente algum, hei-de chorar. 
 Deus fez o poeta por que não descanse 
 No golfo do destino e amores no mar: 
 Vem um, de onda, cobri-la - e ela que dance! 
 Vem outro - e faz menção de me enfeitar. 
 Os outros a conspurcam, mas é minha! 
 Chicoteá-la vou com a própria espinha, 
 Estreitam-me de amor seus braços mornos, 
 Transformo seus gemidos em meus uivos 
 E torno anéis dos seus cabelos ruivos 
 Na raspa canelada dos meus cornos. 
"Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga", Vitorino Nemésio
(Vitorino Nemésio nasceu no dia 19 de Dezembro de 1901. Morreu em 1978.) 
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