domingo, 6 de setembro de 2020

Camilo Pessanha 7

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, – frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.


Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.


E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado...


Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto
.

"Clepsidra", Camilo Pessanha 

(Camilo Pessanha nasceu no dia 7 de Setembro de 1867. Morreu em 1926.)

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