Flagelados do vento-leste
Nós somos os flagelados do vento-leste!
A nosso favor
não houve campanhas de solidariedade,
não se abriram os lares para nos abrigar
e não houve braços estendidos fraternalmente
para nós!
Somos os flagelados do vento-leste!
O mar transmitiu-nos a sua perseverança,
Aprendemos com o vento a bailar na desgraça,
As cabras ensinaram-nos a comer pedra
para não perecermos.
Somos os flagelados do vento-leste!
Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem
a caminhada
Teimosamente caminhamos de pé,
num desafio aos deuses e aos homens,
E as estiagens já não nos metem medo,
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!...)
Somos os flagelados do vento-leste!
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre
escutado
são apenas
as vozes do mar
que nos salgou o sangue,
as vozes do vento
que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das nossas montanhas
estranha e silenciosamente musicais
Somos os flagelados do vento-leste!
"Tutchinha", Ovídio Martins
(Ovídio Martins nasceu no dia 17 de Setembro de 1928. Morreu em 1999.)
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