sábado, 22 de setembro de 2018

Abel Botelho 6

Simultaneamente com esta clandestina conspirata nos promíscuos desvãos da locanda do Zé Pequeno, ali a não muitos metros dela, em casa de Afonso de Carvalho Meireles, o arrogante senhor da fábrica do Almargem, se retinira também a pequena sociedade habitual. Numa aparatosa antessala, austera e fria, - té meia altura vestida do seu rodapé de azulejos, para cima um carcomido forro de preciosos gobelins, em capelas, paveias, listrões de flores, mal amparados erguendo-se a entestar com a bisarma piramidal do negro teto apainelado, - abancavam, como de habito, a uma quina, em volta ao grande bufete de ébano torcido: o velho Meireles e a mulher, o comendador Sulpício, o Bernardo Gonzaga, o padre Sebastião. E um pouco a distancia, no outro extremo da diagonal, Adriana, a patrícia filha dos donos da casa, distraída bedelhava ao piano, em vagos acordes, em fugazes e cérulas melodias.

"Amanhã", Abel Botelho 

(Abel Botelho nasceu no dia 23 de Setembro de 1854. Morreu em 1917.)

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