Não estou só, porque o piano invisível
Está repetindo a valsa clássica daquela noite, há muito tempo.
Não estou só, porque há palavras que foram ditas e não morreram de todo.
Não estou só, porque as amadas mortas ainda estão falando ao meu ouvido;
Mocinhas vestidas de branco das cidadezinhas tranquilas estão sorrindo para mim,
Comovendo minha estátua e o retrato em cima da mesa.
Não estou só, porque os olhos do retrato estão perdidos no passado e no presente.
A sala é pequena. O mundo parou. Tudo parou. Ainda assim não estou só,
Porque a noite chora sangue no pingo da estrela,
Parado, no rasgão da janela que dá para o mundo.
(Camillo de Jesus Lima nasceu no dia 8 de Setembro de 1912. Morreu em 1975.)
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