Como caem as árvores eu caio e caindo caio como as folhas e as sombras caem devagar e leves e oiço-os chorar e falar comigo e não posso responder enquanto caio porque se respondesse que diria senão que me abato como se abateram outrora o meu pai a minha mãe o meu marido de repente calados e imóveis e assim brancos como a luz nesta casa tão branca sobre os móveis brancos os espelhos devolvem o silêncio e as lágrimas deles e amanhã subirão comigo lá acima e sem palavras para além das do padre voltarão o meu rosto na direcção do sol.
"A Ordem Natural das Coisas", António Lobo Antunes
(António Lobo Antunes nasceu no dia 1 de Setembro de 1942)
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