E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver
aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia
homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o
batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram
pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.
Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel;
e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os
pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de
proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete
vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro
preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma
copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe
um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de
aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e
com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais
fala, por causa do mar.
"Carta a El-Rei D. Manuel", Pêro Vaz de Caminha
(Pêro Vaz de Caminha nasceu em 1450. Morreu no dia 15 de Dezembro de 1500.)
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