sexta-feira, 6 de outubro de 2017

José de Freitas Guimarães

Viúvo 

Andava triste e só, com a cabeça curvada,
Sem fé, olhando o chão, célere e curto o passo;
Se acaso olhava alguém, esse olhar era escasso:
Logo os olhos baixava à terra renegada.

Vivia a conversar com a sombra projetada
À sua frente, ao lado, atrás de si: no espaço
Azul jamais fitou o olhar tristonho e baço;
Jamais se incomodou com o rir da garotada.

De quando em quando, entanto, o brilho de um sorriso
Enfeitava-lhe a boca, iluminava o rosto
E logo se escondia, entre discreto e franco...

Nesse instante, talvez, do passado indeciso,
O vulto da mulher, como a luz de um sol posto,
Surgisse a lhe acenar, feliz, com um lenço branco!

José de Freitas Guimarães

(José de Freitas Guimarães nasceu no dia 7 de Outubro de 1873. Morreu em 1944.)

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