segunda-feira, 6 de março de 2017

Silva Ramos 4

Eu não pretendo o sacrifício desta boa terra, até o ponto de exigir dela que se desentranhe em Niágaras de luz, mas o que pedia era que, sendo possível, me fosse mantido, em toda a sua pureza, quer haja lua, quer não a haja, o modesto bico de gás. É um desejo imoderado de Pantagruel este meu? Embora! Eu não deixarei de impetrar, com igual fervor, para a rua do Queimado ou para a Rua do Sebo, o que Goethe pedia para si à hora da morte: luz, luz, luz.
Por último, ó lua, tu sabes que o que digo de ti é sans rancune. Tens visto como eu te acolho cheio de bons sorrisos, quando, depois de apagar a minha vela, te insinuas mansamente pela janela do meu quarto, com as sutis precauções de uma amante discreta; por isso me dói ver que proteges, com o teu manto de luz, a sordície inqualificável de municípios avaros.

Silva Ramos

(Silva Ramos nasceu no dia 6 de Março de 1853. Morreu em 1930.)

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