sexta-feira, 3 de março de 2017

Marcelo Gama

Soneto de um pai

Vê-la crescer, florir - viço e perfume;
Já sorri; quer falar; tartamudeia;
Diz "mamãe" e "papai" sufoca o ciúme.
Os dentinhos lhe vêm. Anda. Chilreia.

Traz a casa de risos sempre cheia.
Vai ao colégio, mas com azedume.
Aborrece as bonecas. Cresce alheia
À formosura e à graça que resume.

De moça tem cismas e alvoroços.
Põe vestidos compridos; fala pouco,
Suspira, sonha, anseia e pensa em moços.

Vê-la como fulgura numa sala...
Envaidecer-me e... chorar como um louco
Quando o noivo vier arrebatá-la!

Marcelo Gama

(Possidônio Cezimbra Machado, que assinava Marcelo Gama, nasceu no dia 3 de Março de 1878. Morreu em 1915.)

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