A seca
Hirtos mandacarus. No espaço, rubro e ardente, 
Numa tragédia imensa, o sol requeima, abrasa. 
Não há, ferindo o céu, nem o gume de uma asa, 
Nem no atro solo brota a fecunda semente.
 
É a seca. Tudo morto. O árido chão é brasa. 
E torvas, espectrais, sob um sol inclemente, 
Legiões de homens nus marcham, ansiosamente, 
Em busca de um abrigo: ignota gruta ou casa.
 
É a suprema desdita, uma visão de Dante, 
Ora a escarpa descendo, ora subindo, arfante, 
Prossegue, ininterrupta, a imensa procissão...
 
Enquanto no alto, lento, as nuvens perfurando, 
O torvo abutre, vil - necrófago nefando - 
Paira, como a lançar-lhe a sua maldição.
"Meditações", Luiz Rabelo
(Luiz Rabelo nasceu no dia 4 de Março de 1921. Morreu em 1996.) 
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