segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Urbano Duarte

Caça às pacas

O meu vizinho Gustavo não gosta de teatros, nem de pagodeiras, nem de comes e bebes. O seu supremo e único prazer consiste em caçar pacas.
Aos domingos e dias feriados, invariavelmente, ele sai de casa pela madrugada, com botas, chapéu de lebre, sacola ao lado, espingarda embrulhada e acompanhado por dois cães atrelados.
E vai-se por esse recôncavo da Guanabara à porfia das pacas.
Tudo pega.
Eu raciocinava assim: se esse homem acha prazer tão grande em matar pacas, é porque deve ser coisa boa.
E veio-me um desejo enorme de experimentar a nova emoção. Nesta vida cumpre aproveitarmos os gozos que se nos deparam, para compensar os pesares que aparecem sem ser chamados.
Manifestei a minha vontade ao Gustavo. Ele acolheu-a sem alacridade, exclamando:
- Amanhã mesmo vamos caçar no Buriti!
- Há lá muita caça?
- Paca ali é mato! Apronte-se. Partiremos às 4 da manhã.
[...]

Urbano Duarte

(Urbano Duarte nasceu no dia 2 de Janeiro de 1855. Morreu em 1902.)

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