quinta-feira, 15 de março de 2012

As marcas de Salazar

"Diz-lhes que não falarei nem que me matem". Este é o título da peça de teatro que a Capital Europeia da Cultura leva à cena, de hoje até sábado, e que conta a vida difícil de Carlos Costa, prisioneiro da ditadura fascista durante quinze anos, vítima de muitas torturas e companheiro de Álvaro Cunhal na célebre fuga do Forte de Peniche.
O JN anuncia que Carlos Costa, 84 anos, estará presente na sessão desta noite, no Centro para os Assuntos de Arte e Arquitectura, em Guimarães.
Carlos Costa é fafense e eu sempre tive muito orgulho nisso. Conheci-o na minha juventude, logo a seguir ao 25 de Abril. Ele ia amiúde a Fafe, aos comícios do seu PCP, que costumavam ser no salão dos meus Bombeiros. Era o comunista famoso que nunca se esquecia de procurar o meu avô para lhe dar um grande abraço, que depois, por sorte e por ser tão grande, sobrava também para mim e me deixava emocionadíssimo, quase em lágrimas.
Por aquela altura eu já sabia o que tinham feito àquele homem. A ele e a outros da minha terra, uma vila do reviralho, um centro de luta antifascista com os seus próprios heróis e mártires. E hoje ainda não esqueci, também porque não quero esquecer. As marcas de Salazar são para manter vivas e bem vivas. Estas, as genuínas e verdadeiras. Por muito que custe e doa. E para incómodo dos sem-memória, dos sem-vergonha e outros contrafactores da História.

2 comentários:

  1. As marcas de Salazar estão bem presentes no povo português. Uma gente que se verga sem questionar, que se habituou a anos de repressão e que acha que não tem direito a ser livre, a exigir, a almejar um futuro melhor.
    Os anos de Salazar deixaram uma marca de resignação, qual tatuagem colectiva, que hipoteca a vida e tolhe as vontades. Continuamos à espera de um D. Sebastião que nunca há-de chegar e, enquanto esperamos, definhamos como povo, vazio de massa crítica e oco de esperança.
    Ana Caridade

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