A greve correu muito bem. Se o Passos Coelho tivesse ficado em casa, ainda tinha corrido melhor. Mas é a vida. Foi emocionante. Grevou-se ali com grande pertinácia e depois a greve acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era uma emergência nacional, e desatei a correr como um tolinho para o WC das escadinhas da Estação de São Bento, com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa da greve.
Que se segue: eu bem não queria, mas tive que ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí de lá com a honra intacta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores do Marco de Canaveses que tinha vindo a uma consulta, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, sotaque da terra e "cara de marroquino". Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino, um toquinho de chouriço de colorau, meia sêmea, um taparuer com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho e um canivete belga com seis centímetros de lâmina. Os suspeitos, um do sexo masculino e o outro não, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos averiguam se o resto dava para fazer uma bomba.
Gostei muito do termo "taparuer"! Andava há muitos anos para asber como se podia escrever em portugues,por tradutores que procurai nunca isto encontrei! Obrigado
ResponderEliminarMiguel
Obrigado, Miguel, pela visita e pelo comentário. Bom fim-de-semana!
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