sexta-feira, 23 de março de 2012

Pequenos inconvenientes de uma greve geral

Fui ver a greve ao Porto. Porque o Porto é um sítio porreiro para se ver greves. Há uma praça e uma avenida destinadas ao efeito, as quais são emprestadas pelo Pinto da Costa quando o Futebol Clube não tem nada para celebrar - o que é raro. Moro em Matosinhos, não tenho carro, não havia metro e o táxi, derivado à minha actual situação económica, é uma cena que não me assiste. Fiquei, portanto, nas mãos dos fura-greves da STCP. Esperei quase hora e meia e tive sorte com o 502. O 502 é um autocarro.
A greve correu muito bem. Se o Passos Coelho tivesse ficado em casa, ainda tinha corrido melhor. Mas é a vida. Foi emocionante. Grevou-se ali com grande pertinácia e depois a greve acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era uma emergência nacional, e desatei a correr como um tolinho para o WC das escadinhas da Estação de São Bento, com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa da greve.
Que se segue: eu bem não queria, mas tive que ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí de lá com a honra intacta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores do Marco de Canaveses que tinha vindo a uma consulta, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, sotaque da terra e "cara de marroquino". Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino, um toquinho de chouriço de colorau, meia sêmea, um taparuer com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho e um canivete belga com seis centímetros de lâmina. Os suspeitos, um do sexo masculino e o outro não, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos averiguam se o resto dava para fazer uma bomba.

2 comentários:

  1. Gostei muito do termo "taparuer"! Andava há muitos anos para asber como se podia escrever em portugues,por tradutores que procurai nunca isto encontrei! Obrigado
    Miguel

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    1. Obrigado, Miguel, pela visita e pelo comentário. Bom fim-de-semana!

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