segunda-feira, 19 de março de 2012

Comédia em dois actos e uma conclusão

1.º acto
Matosinhos. No supermercado. O casal, a rondar os 65 anos, estuda a prateleira dos vinhos. Ele, de cabelo preto obviamente pintado, escolhe uma garrafa e lê e explica à mulher o contra-rótulo, com o ar mais entendido do mundo. É aquela. Levam. Chegam à caixa e o homem assusta-se quando percebe que a garrafa custa 2,99 euros. "Mais um euro do que o preço antigo, não pode ser". Mas felizmente tinha percebido mal: são "apenas" 2,10 euros, explica-lhe a funcionária, "só subiu 11 cêntimos".
"Dá-me para seis refeições", diz o homem para a fila que tinha atrás, tentando justificar a fortuna que ali larga. Um cliente ainda mais velho aproveita a deixa. Tem para aí 70 anos e diz:
- Se me permite um conselho, e já que bebe tão pouco, então nunca compre garrafas de menos de três euros. Abaixo disso, é vinho feito a martelo...
- Pois se calhar. Mas cada um é que sabe da sua bolsa... - responde-lhe o do cabelo pintado.

2.º acto
Lisboa. Palácio de São Bento. Em sete meses, o Governo PSD/CDS alegadamente liderado por Pedro Passos Coelho nomeia e dá emprego a um total de 1.110 pessoas, tudo rapaziada amiga. Paralelamente, cria 45 grupos de trabalho, alguns já com relatórios apresentados, quase todos com propostas polémicas e que seguem directamente para o lixo.

Conclusão
Portugal. O português do rés-do-chão continua a viver acima das suas possibilidades, pedindo dinheiro ao banco para gastar em vinho que chega a custar mais de dois euros a garrafa. Faz bem Passos Coelho quando puxa as orelhas a este povo desgovernado. Faz bem e dá o exemplo de poupança, com a parcimónia no número de nomeações - e só para salários mínimos - e o critério na criação de comissões. Que afinal não servem para nada, mas ficam praticamente de graça ao País, uma vez que os especialistas convidados trabalham todos para aquecer. Isto é uma comédia.

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