domingo, 1 de dezembro de 2024

Bombistas de secretaria

"... o MDLP estava compartimentado. Havia uma parte política, o gabinete político que fazia análise política diária para o general Spínola. Havia as FAE [Forças de Ação Externa] que estavam preparadas para o caso de as coisas correrem mal e haver uma tomada de poder por parte do Partido Comunista ou da extrema-esquerda ou de ambos, então era uma reserva de intervenção. E havia a RAI (Rede de Ação Interna) que cobria o território a nível distrital, recolhia informações e aquelas que interessavam à parte militar mandavam para a parte militar e aquelas que interessavam à parte política mandavam para o gabinete político e depois, digamos, era encaminhado para o general Spínola."
Ninguém diria que o bando de bombistas sacristas de 1975-1976 era uma organização assim tão excel, tão parcimoniosa e higiénica, após 566 acções violentas e mais de uma dezena de mortes, 123 assaltos a sedes de partidos de esquerda, 116 ataques bombistas, 31 incêndios, 8 atentados a tiro, 8 espancamentos e 6 apedrejamentos, de acordo sobretudo com a Wikipédia, mas foi desta maneira singela que Diogo Pacheco de Amorim apresentou a coisa, este fim-de-semana, numa aprazível entrevista à rádio TSF.
Diogo Pacheco de Amorim é o ideólogo do partido Chega, deputado da Nação e vice-presidente da Assembleia da República. Foi, no MDLP, do tal "gabinete político" e não admite que digam que sabia das bombas. Estava na secretaria, valha-me Deus...
Lembro-me do Pacheco de Amorim, jovem jornalista e todo menino-bem, naquele seu andar armante mas decidido, vigoroso, passeando ou talvez marchando pelos corredores de O Primeiro de Janeiro, em Santa Catarina, e eu a pensar, fino como um alho e se calhar invejoso, "este tipo vai longe, ainda vai explodir", e meu dito meu feito. Diz que lhe deram um carro no Parlamento e até tem motorista.

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