sábado, 30 de outubro de 2021

O fim do mundo em cuecas

Gosto destes filmes e destas séries da moda que contam o fim do mundo, os diversos modelos de fim do mundo, e a luta heróica dos sobreviventes. Invasões marcianas, asteróides desgovernados, pandemias assassinas, ataques de mortos-vivos, catástrofes de proporções bíblicas, apocalípticas, deuteronómicas, cenários dantescos, a estrada da morte, a cinza, a escuridão, a asfixia, o nada, o-drama-a-tragédia-o-horror. O planeta desaparece e, no seu regenerador desaparecimento, traz à tona os melhores dos melhores de todos nós, americanos por certo. O pai-herói, a mãe-coragem, o bebé-milagre, o Sepúlveda-Taberneiro, de quem ninguém sabia há mais de quarenta anos, desde que pôs os cornos à mulher no Sabugal e fugiu com a espanhola da casa de alterne. Para a América, Kansas City, Missouri. Dão bons títulos nos jornais.

Estes filmes fazem-me acreditar na redenção da humanidade. Os sobreviventes são a esperança num futuro melhor. Isto por um lado. Por outro: mas qual futuro e quais sobreviventes? Se o mundo acabou, como é que há sobreviventes? 

P.S. - No dia 30 de Outubro de 1938, Orson Welles transmitiu a versão radiofónica da "Guerra dos Mundos", de H. G. Welles, simulando uma reportagem em directo sobre a invasão da Terra por marcianos. Os americanos acreditaram que era verdade. O medo paralisou três cidades e houve pânico principalmente em localidades próximas de Nova Jersey, onde o programa era feito e onde tudo alegadamente acontecia.

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