Espelho
Espelho
do quarto, pregado à parede.
Só
húmido tempo nas manchas da cal,
E
as bocas da fome, do riso, e da sede.
Retrato
de vidro da cor natural.
As
nítidas rugas, a forma do sexo,
A
idade dos mortos que vem no jornal.
Se
canto é o sonho que está no reflexo
Por
dentro das coisas que estão no real.
Se
vejo é teu corpo, na sombra, no ar,
No
fundo dos olhos que estão distraídos
Com
o cheiro da vida que está a passar.
Se
entendo é a voz que está nos ouvidos
Por
dentro da voz que está a falar
Tão
fora das coisas que estão nos sentidos.
Se
olho, é uma concha. Se canto, é o mar.
António Norton
(António Norton nasceu no dia 8 de Novembro de 1924)
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