Foto Hernâni Von Doellinger |
O primeiro cônsul britânico para o Porto terá sido nomeado pelo rei Carlos I em Fevereiro de 1642, datando da segunda metade desse século XVII as primeiras referências à feitoria, porém sem ligação a um edifício concreto. Esse edifício, o que hoje conhecemos na esquina das ruas do Infante D. Henrique e de São João, veio finalmente a ser construído por volta de 1786, um prédio magnífico, bem o espelho do poder e do sucesso entre nós dos mercadores ingleses. O estilo "inglês", ditado pelo desenho de John Whitehead, seguia a nova escola do arquitecto John Carr, que assinalaria também com a sua chancela, directa ou indirectamente, através do discípulo português Joaquim Sampaio, as linhas do Hospital de Santo António, da igreja britânica, do Palácio da Bolsa, da Universidade e das Caves Sandeman. No Porto agonizava o barroco italiano de Nasoni, e os ingleses marcavam a cidade.
Pela última das feitorias britânicas espalhadas pelo mundo passaram as estratégias dos grandes negócios, mas também os bailes de gala ou os lanches elegantes, as realezas aliadas e, posteriormente, os dignitários da República. Em todo o caso, do importante pólo dinamizador de todo o comércio dos ingleses no Porto já pouco ou nada resta, tirando o edifício e a tradição.
Hoje - adoptando o nome de British Association - a velha feitoria será "talvez o mais exclusivo clube do mundo", no dizer de David Bain, economista de 42 anos que ocupa o cargo de tesoureiro da instituição. Um "clube de exportadores de vinho", com cerca de trinta sócios, e só homens, entre ingleses e portugueses. Os sócios portugueses são dois directores-gerais em empresas britânicas ou a elas ligadas, mas, é preciso que se note, não têm direito a voto.
A feitoria vai servindo como sala de visitas e de promoção social e comercial do vinho do Porto, organizando um jantar anual, festas de Natal e de Verão e, sempre só para homens, um almoço semanal, às quartas-feiras, envolvendo cerca de vinte comensais, entre associados e convidados. às quartas-feiras, porque - esclarece David Bain - noutros tempos não havia distribuição de correio nesse dia e, por ser nulo o despacho à tarde, os nossos fleumáticos amigos poderiam sem reservas embrenhar-se pelos deleites das divinas ambrosias servidas...
P.S. - Quarta parte de um trabalho que escrevi para a edição de Junho de 1992 da revista Grande Reportagem, então dirigida por Miguel Sousa Tavares. Lembrei-me dele a propósito de uma recente reportagem do jornalista David Mandim no DN Life.
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