Levanto-me.
Vou supor-me a
resistir. Lentamente até fugir.
Descubro corridas as
cortinas das janelas deste quarto virado para Oriente. Afasto-as, e os olhos
navegam pelos telhados das casas lá em baixo. São inúmeras e quadradas. Unidas como
se quisessem cuidados umas das outras. Talvez por dentro nem transpirem assim
tanta solidariedade. Mas eu penso nas presenças que as tornam vivas e humanas,
nas conversas que esconderão, nas crianças debruçadas para o beijo ou para a
música, as refeições acesas pelos fogões. Afinal, hoje é domingo e toda a gente
é um horizonte de si. Estão felizes com certeza, e se não estão tentam, por
decerto terem pouco do que rir noutros dias. O domingo é quase tétrico de nos
vermos tão nitidamente. É, no fundo, como a morte onde se prevê aquele
poeta.
"Janela para Oriente", Eduardo White
(Eduardo White nasceu no dia 21 de Novembro de 1963. Morreu em 2014.)
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