Jornalista político e cultural, opino sobre isso e aquilo o tempo todo. Mas jornalismo, mesmo ensaístico, é dipersão de energias na vida do próximo, em coisas exteriores à ilha em que vivo e na qual um psicanalista amigo, Borsoi, descobriu uma catedral, meu superego: ajoelho, rezo e cumpro. A imagem é de Koestler, Borsoi não gostou de Koestler sem ler. Pensaram aos mesmo tempo. Borsoi foi um dos poucos psicanalistas brasileiros que escapariam da cadeia em país civilizado. Morreu. Não me analisou. Eu o admirava, mas minha única aterrissada em divã, em 1961, aconteceu quando perdi a memória de suas semanas. Recuperei a memória e dormia no divã de E. M. Medi o bicho, testei-o contra textos de Freud, Klein e até, colher de chá, o prefácio de Strachey ao estudo de Leonardo da Vinci. Desmoronou. Me perdeu de vez quando notei que fumava cigarro de filtro com piteira. Imperdoável. Depois que me despedi, quase em seguida, internaram o pobre E. M., síndrome qualquer-besteira. Duvido que soubesse diagnosticar. O homem levava Erich Fromm a sério. Está de volta, me informam, faturando.
"O Afeto Que Se Encerra", Paulo Francis
(Paulo Francis nasceu no dia 2 de Setembro de 1930. Morreu em 1997.)
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