quinta-feira, 13 de julho de 2017

Roberto Macedo

Os meus versos
 
Os meus versos não são meus!
São um fio delgadinho,
Mais fino que o fino linho,
Da inteligência de Deus!


Sou o espelho unicamente:
Colho a imagem fulgurante
de estrela, de sol ardente,
Milhões de léguas distante.


Como, no búzio, cantando
Vem o mar, seu cavo grito
Anda talvez silabando
Em mim a voz do Infinito.


A frágil haste do trigo
Vibrou ao passar o vento;
Sucede o mesmo comigo.

Sacode-me o pensamento.

Ando, às vezes, distraído
E a ideia sorrateira

Vem-me falar ao ouvido,
Sem achar de que maneira!...


E quando os meus versos traço
E os assino, como autor,
Reconheço que não passo
De receptor-transmissor.


Surge na várzea rasteira
Seara em verde lençol;
E cresce e fica altaneira
E quem a ergueu foi o Sol.


Até ao fundo covil
Do coração mais lapuz
Chega o hálito de Abril,
Vai uma réstia de luz.


O que somos, nesta vida,
Nós o devemos a Alguém
E passamos, de corrida,
Do além para o Além.
 
Roberto Macedo

(Roberto Macedo nasceu no dia 14 de Julho de 1887. Morreu em 1977.)

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