sábado, 1 de julho de 2017

Orlando da Costa

Canto civil 1

Este é o meu canto civil 
canto cívico graduado
desde um tempo antigo que vivi
entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio
Esse era o tempo do assalto às casernas
mas já então eu escrevia o que devia:
a cartilha da guerrilha do amor e da paz
para ser ensinada à luz das lanternas
nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis

Este é o meu canto civil
canto cívico desfardado
escrito a vinte e oito de Abril
do ano passado à noite
de punho cerrado com alegria e sem espanto
canto para ser cantado de dia 
por todos por muitos por mim ou por ninguém: 

Soldado raso 
ao cimo da calçada 
em guarda 
de flor e farda 
a flor que te damos 
é pão da madrugada 

É pão amassado 
sem liberdade 
é gesto de guerra 
em nome da paz. 
É flor de canção 
em terra mar e ar 
rubra flor popular 
num só cano de espingarda 

Soldado raso 
em sentido na memória 
lembra-te de novo e sempre 
a flor que te damos 
é da terra é do povo 
é pão da madrugada.

Orlando da Costa

(Orlando da Costa nasceu no dia 2 de Julho de 1929. Morreu em 2006.)

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