domingo, 12 de março de 2017

Ribeiro Couto 2

O portão

Quando à noite regresso a esta rua calada
que sabe o meu romance e esconde a minha vida,
vou antes contemplar certa casa alpendrada
e fico ali, numa atitude enternecida,
fico ali namorando a janela fechada
atrás da qual, no leito lírico, esquecida,
dorme alguém, como a princesa da balada.


Em torno à sua casa o jardim também dorme.
E do arvoredo, que ao luar tem brilhos vagos,
vem um perfume que perfuma a noite enorme,
Esse perfume espalha mãos cheias de afagos...


Fico ali... Tudo toma expressões diferentes.
Tudo toma expressões de impossibilidade...
Ao luar, tudo toma expressões diferentes.
Tudo... Principalmente o seu portão de grade
que me diz "nunca!" no cadeado e nas correntes.


"O Jardim das Confidências", Ribeiro Couto

(Ribeiro Couto nasceu no dia 12 de Março de 1898. Morreu em 1963.)

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