A vida que venha
Vai por entre a gente
Minha alma perdida,
E a fome que sente
É a fome da vida.
Que a vida não tenha
Senão mal e dor,
A vida que venha
E seja o que for!
Mais vale ser barco,
Pra raiva do mar,
Que à tona dum charco
Ser flor a boiar.
Mais vale ir ao fundo
Das negras funduras,
Que achar neste mundo
Só rotas seguras!
Me façam Jesus
Na dor e na glória!
Dos braços da cruz
Me venha a vitória!
Qualquer minha empresa
Que eu veja falir
Me mostre a beleza
De Alcácer-Quibir...
Que a todo o momento
Eu sinta o açoite
Do vento, em lamento
Nas trevas da noite!
Assim preparado
Pra mal e pra bem,
Espero cansado
E a vida não vem...
Por isso, entre a gente,
Minha alma perdida
Mais sofre, mais sente
A fome da vida!
Que a vida não tenha
Senão mal e dor,
A vida que venha
E seja o que for!
João Braz
(João Braz nasceu no dia 13 de Março de 1912. Morreu em 1993.)
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