segunda-feira, 13 de março de 2017

João Braz

A vida que venha

Vai por entre a gente
Minha alma perdida,
E a fome que sente
É a fome da vida.

Que a vida não tenha
Senão mal e dor,
A vida que venha
E seja o que for!

Mais vale ser barco,
Pra raiva do mar,
Que à tona dum charco
Ser flor a boiar.

Mais vale ir ao fundo
Das negras funduras,
Que achar neste mundo
Só rotas seguras!

Me façam Jesus
Na dor e na glória!
Dos braços da cruz
Me venha a vitória!

Qualquer minha empresa
Que eu veja falir
Me mostre a beleza
De Alcácer-Quibir...

Que a todo o momento
Eu sinta o açoite
Do vento, em lamento
Nas trevas da noite!

Assim preparado
Pra mal e pra bem,
Espero cansado
E a vida não vem...

Por isso, entre a gente,
Minha alma perdida
Mais sofre, mais sente
A fome da vida!
Que a vida não tenha
Senão mal e dor,
A vida que venha
E seja o que for!


João Braz

(João Braz nasceu no dia 13 de Março de 1912. Morreu em 1993.)

Sem comentários:

Enviar um comentário