Os eleitos: personalidades da informação à comédia, da cultura ao entretenimento. Os rostos de quem verdadeiramente fez história em Portugal, sendo-nos de casa, gente das nossas vidas, desde os tempos a preto e branco. E não sei se hoje, nos 60 anos da televisão pública e tão a cores, a selecção poderia ser diferente...
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Foto JOÃO LIMA |
Deram-lhe o nome, não por acaso, de Senhor Televisão. Carlos Cruz chega à RTP em 1962 e ao longo dos anos é chamado, por diversas vezes, a desempenhar funções de direcção. Mas é como apresentador de programas carismáticos como Zip Zip, com Fialho Gouveia e Raul Solnado, ou Um-Dois-Três que ele chega às casas e aos corações dos portugueses.
"Eram programas muito fortes", dizia-me Carlos Cruz, revelando, porém, a sua especial predilecção pela rubrica de entrevistas a que colou o seu próprio nome. "Deu-me muito gozo fazer o Carlos Cruz - Quarta-Feira. Realizei-me muito como pessoa e como profissional", confessava. Para O Comunicador (outro apelido), figurar neste top ten era "o reconhecimento de quarenta e tal anos dedicados à profissão, com muito entusiasmo e honestidade". E o que o enchia de "orgulho" era "ter atingido o melhor da população portuguesa, num meio de tanta exposição e em que cada dia é uma aventura". E o escândalo Casa Pia já lhe tinha rebentado nas mãos...
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Foto VOX POP TV |
Como o próprio Júlio me dizia, ele que nunca quis nada com a modéstia, "era inevitável" que o seu nome estivesse entre os melhores de sempre da RTP. "Afinal, trabalho em televisão há 47 anos", justificava o então co-apresentador do Portugal no Coração.
Júlio Isidro estreou-se no pequeno ecrã aos 15 anos, com o Programa Juvenil, a 16 de Janeiro de 1960. A partir daí foi sempre pau para toda a obra, criando, apresentando, realizando ou produzindo "montes de programas que, em épocas diferentes, tiveram a sua importância".
O apresentador quis destacar os "seis ou sete anos" da sua vida que deu ao Passeio dos Alegres, um conceito que ele desenvolveu para "programas de entretenimento de grande fôlego", como os que agora enchem de nada as manhãs e tardes televisivas.
Momento alto da carreira, a Gala dos 50 anos da ONU, que o nosso Júlio Isidro apresentou em 1995. E ele explicou-me porquê: "Música dos Beatles tocada por uma orquestra dirigida por George Martin, o próprio produtor dos Beatles, e logo eu ali, que mais podia querer"...
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Foto ROINESXXI |
Este é mesmo dos pioneiros. Depois de brilhar como repórter de guerra na BBC (II Guerra Mundial, 1939-1945), Fernando Pessa foi o protagonista da primeira edição em directo da RTP, a 7 de Março de 1957, na Feira Popular de Lisboa. E no entanto só entrou para os quadros da empresa no dia 1 de Janeiro de 1976, já com 74 anos...
E esta, hein? Cai aqui como uma luva a célebre expressão com que o tarimbado repórter televisivo substituía os palavrões que lhe apetecia dizer quando denunciava o que lhe parecia mal em Lisboa e no País. Era o selo dos seus famosos Bilhetes Postais...
Estão a ver a imagem? O velhinho todo vivaço, com cara de malandro, microfone em punho, bolsa ao ombro, às vezes de bicicleta e sempre que a notícia era carros antigos? Era o Pessa...
Fernando Pessa reformou-se em 1995, como 93 anos de idade. Morreu em 2002, pouco depois de completar cem anos. "Ninguém identifica melhor a história da RTP do que a cara de Fernando Pessa", dizia-me, na altura, o actor e argumentista televisivo Tozé Martinho.
(Próximo episódio, amanhã)
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