segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Cecília Meireles 4

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.


É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.


O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.


O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.


O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos

severos conosco, pois o resto não nos pertence.

"Poesia Completa", Cecília Meireles

(Cecília Meireles nasceu no dia 7 de Novembro de 1901. Morreu em 1964.)

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