segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Alberto Ramos

Epitalâmio fúnebre

Deuses! a vida é bela; a árvore é rica; a fruta
saborosa, purpúrea, agreste e perfumada,
que o meu gesto voraz alcança na ramada;
e longamente aspiro a tenra polpa enxuta.

Doce é o mel prelibado e a paz que se desfruta
ao sol que amadurece a uva embalsamada.
Deuses! terrificante é a Parca desalmada;
dos meus lábios em flor arredai a cicuta!

Não! Venha a morte; incline esta fronte sonora
quando ainda o Sol sorri, quando ainda brilha a aurora,
deuses! e o fruto e a flor pendem na verde rama.

Possa eu votar-te, ó fria e casta e taciturna,
uma fronte viril e um coração de flama
que debaixo da terra ainda abrase na urna.


Alberto Ramos

(Alberto Ramos nasceu no dia 14 de Novembro de 1871. Morreu em 1941.)

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