pedrada
em tempo de dura andança
(povoado de inimigos
armados de ilusões)
é pedra a flor na estrada
(cercada de cemitérios
onde cruzes são cifrões)
é pedra feita palavra
(quase sempre sepultura
do trabalho apodrecido)
palavra filha do gesto
(para os velhos: indigesto)
leve e puro do menino
(flor sa(n)grando rebeldia:
clara semente da aurora)
quebrando o negro cristal
(estrela velha, caída
na noite da mais-valia)
estilhaçando a vidraça
(redoma, muro, prisão:
precipício solidão)
em tempo de dura andança
(a liberdade germina
no seio de falsos natais)
a pedra, a flor, a palavra
o gesto, o dia, a estrada
brotam
das mãos do menino:
estrelas de sangue, esperma e argamassa
sóis de fúria e pranto e alegria
iluminando
o novo horizonte: claro e verdadeiro
como o azul que nasce do ventre da manhã
Mário Jorge
(Mário Jorge nasceu no dia 23 de Novembro de 1946. Morreu em 1973.)
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