Não me lembro qual a minha idade quando ficou decidido que, no ano seguinte, eu entraria para a escola.
Mas eu devia ser muito e muito pequeno. Tão pequenino que não pronunciava direito as palavras e ainda chupava o dedo e vestia roupinhas de menina.
Mas não imaginem que eu fosse um menino excepcional, desses meninos-prodígios, ajuizados e sisudos, que não riem, não brincam e não saltam, dando à gente a impressão de que já nasceram velhos.
Pelo contrário. Eu era uma criança alegre, traquinas e estouvada, que vivia correndo pelo quintal e fazendo estripulias pela casa.
Dois motivos é que me deram vontade de estudar.
O primeiro deles - as calças. Desde que me entendi, tive a preocupação de ser homem e nunca me pude ajeitar nos vestidinhos rendados de menina. Sempre olhei com inveja os garotos mais taludos do que eu, não porque eles fossem maiores e gozassem regalias que os garotinhos não gozam, mas porque usavam calças.
Minha mãe prometia freqüentemente:
- Quando você entrar para a escola deixará dos vestidinhos.
E, por amor às calças, comecei a mostrar amor aos livros.
O segundo motivo é que o primeiro contato que tive com uma escola foi através de uma festa. E ficou-me na cabeça a idéia de que a escola era um lugar de alegria.
"Cazuza", Viriato Correia
(Viriato Correia nasceu no dia 23 de Janeiro de 1884. Morreu em 1967.)
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