Cobria-se a Serra de flores. Correu primeiro um balbucio de
primavera. Seria já a florada? Botões, aqueles pequenos sinais? No meio
dos bosques escondidos entre os montes, o amarelo e o vermelho
salpicavam, abriam no verde sorridente espanto. Em lugares mais
resguardados, mais favorecidos, em breve surgia a neve florida cobrindo
as pereiras e transformando, enriquecendo a paisagem. E logo também
floriram os pessegueiros. Junto das favelas, nos parques dos sanatórios,
rodeando os bangalôs, à beira das águas mansas, a florada em rosa e
branco apontou finalmente, luminosa, irreal.
Perto do pequeno lago em que se debruçavam as pereiras alvas,
encantadas, o pintor armou o cavalete. Tocados de primavera, os galhos
roçavam a água que reproduzia a fila das árvores. Amarrada à margem, a
pequena canoa envernizada, vazia, estava juncada de flores que o vento
carregara.
Elza surpreendeu Flávio pintando com aquele entusiasmo e fervor. Tocou-lhe no ombro.
"Floradas na Serra", Dinah Silveira de Queiroz
(Dinah Silveira de Queiroz nasceu no dia 9 de Novembro de 1911. Morreu em 1982.)
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