André quer mulher formosa,
Mas que não tenha ceitil;
Gil não quer mulher formosa:
Qué-la feia e bondosa.
Isto quer o André e o Gil.
André preza-se de nobre;
Gil nada tem de vilão;
um é sesudo, outro pobre;
não há força por que dobre
um do outro a opinião.
Um leva o primor por guia,
outro o faro do proveito;
um é fino em demasia;
outro só do haver se fia...
Não sei qual vai mais direito.
Eu agora os dois compasso
(coisa que é folgar de ouvi-la)
e bem medidos os faço:
André das cores do Paço
e Gil das tintas da vila.
Vós, que não sois de escarcéus
e sois também do mercado,
dai sentença nestes réus;
dai-lha, assim vo-la dê Deus,
de que sejais bem casado.
"Obras Métricas", D. Francisco Manuel de Melo
(D. Francisco Manuel de Melo nasceu no dia 23 de Novembro de 1608. Morreu em 1666.)
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