sábado, 6 de dezembro de 2025

O papel e o papelão

O (des)interesseiro
- Eu quero é que o dinheiro se foda! - dizia. Acrescentando: - E que procrie, evidentemente...

O gestor de projectos instalou-se em Fafe, vindo ninguém sabe donde, e foi ao banco pedir um empréstimo. Quantia avultada. Pretendia construir e montar de raiz uma fábrica de cartão canelado e pós de perlimpimpim, exactamente no sítio onde fora outrora a velha Fábrica do Papelão, no rio Ferro, em Cavadas, a seguir ao extinto monte de Castelhão, entre as pontes de Ranha e de São José, investimento para cima de diversos milhões de euros e emprego garantido para cerca de 23 pessoas, talvez 24 ou 25, ainda não sabia ao certo, isto tudo, bem entendido, antes da chegada em barda das grandes superfícies, que entretanto tomaram conta do lugar. O senhor do banco pediu-lhe a identificação de gestor de projectos, e o gestor de projectos respondeu prontamente: "Não tenho. Ainda estou a começar. Este é o meu primeiro negócio, mas toco muito bem ocarina". O senhor do banco tomou devida nota e observou, arguto e rindo: "Fábrica de cartão canelado, nesta altura do ano? Vê-se logo que é golpe, vigarice das antigas". "Golpe, não, caríssimo senhor, e faça o favor de reparar que eu disse caríssimo sem saber sequer a taxa de juro que aqui se pratica. Em todo o caso, se eu fosse mesmo vigarista, e dos antigos, como vosselência fez questão de caracterizar, ter-lhe-ia indicado que precisava do dinheiro para abrir um banco e não uma fábrica", ripostou o gestor de projectos, sem se rir, e foi roubar carteiras para outro lado.

(Versão revista, actualizada e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

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