O andar de John Wayne
O que ele queria mesmo era ter um andar como o do John Wayne. Aquele andar, estais a ver? O andar inteiro. Doze quartos, duas cozinhas, piscina com escorrega e, evidentemente, marquise.
Vem aí o Dia do Artista e eu não sei dele. Não sei do Artista, quero dizer. O Artista é de Fafe, do meu tempo, morava no Picotalho, à beira da velha casa do Sr. Armindo Bristol e do Carlos Frangueiro, andou comigo na escola, o Carlos também, o Artista é portanto rapaz da nossa idade. O Artista era Artista porque se identificava com os artistas da televisão e do cinema, e estava bem visto, porque os artistas eram os galãs, os protagonistas, os que levavam a rapariga, os que nunca morriam. Por isso, antes de começar a brincadeira, o Artista avisava logo, sem dar vez a mais ninguém: "eu é que sou o Artista". Uns diziam que eram Eusébio, outros que eram Adrião, uns diziam que eram Zorro, outros que eram Daniel Boone. O Artista era o Artista, e estava tudo dito.
Por razões talvez profissionais, o Artista gostava de frequentar a sala de bilhares do Café Império em vez do Peludo, ao contrário de nós todos, vestia sempre com grande categoria e tinha um andar estudado, foi trabalhar para o Porto há quase cinquenta anos, depois disso encontrámo-nos em meia dúzia de fortuitas ocasiões, curiosamente sempre em Fafe, ele cada vez mais impecável, parecia um lorde, invariavelmente apressado, e a seguir perdi-lhe o rasto, nunca mais o vi. Alguém me sabe dizer o que é feito do Artista?
(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)
Sem comentários:
Enviar um comentário