A Póvoa. Fafe muda-se no Verão para a Póvoa, e eu também. Não cuidem que
estou a ser cínico. À falta de posses para outros algarves, eu próprio
passei a fazer férias na Póvoa de Varzim, todos os anos, desde os tempos
da troika - e troika, para mim, são estes três: Passos Coelho, Paulo
Portas e Cavaco Silva.
As minhas férias deste ano foram no passado dia 1 de Agosto, um domingo à tarde. Peguei na mulher e ala para a Póvoa, com transbordo
na Senhora da Hora. Saímos depois de almoço, mas para mim o almoço já
conta como férias. Comemos em casa dois bijus, um para cada, levantámos
a mesa, varremos a sala, lavámos a louça, regámos os vasos, desligámos
a água, a luz e o gás, fechámos a porta com três chaves e uma tranca,
pedimos à vizinha que deitasse os olhos às janelas e lá fomos apanhar o
metro. A viagem correu muito bem.
A Póvoa estava cheia, como costuma acontecer nesta época do ano, certamente por causa do tempo. Mas há cada vez mais andares e apartamentos para vender e quartos por alugar, de acordo com os letreiros. A língua oficial da Póvoa de Varzim, entre os meses de Junho e Agosto, é o francês com caralhos no meio. Eu e a minha mulher foi como se estivéssemos no estrangeiro, embora com caralhos no meio, e ainda há um bocadinho tínhamos saído de Matosinhos. Por falar nisso, liguei à vizinha para saber se estava tudo bem. E estava.
Aproveitámos as férias em cheio. Olhámos para o casino e para o Cego do Maio, fomos espreitar as montras com bolos, a praia, os banhos e as banhas. Fomos às piscinas, ao museu, à biblioteca, à praça de toiros e ao estádio, sempre pelo lado de fora, para não incomodar. Não percebo quem diz que não tem dinheiro para ir de férias. Eu e a minha mulher fomos e às 17h45 já estávamos outra vez em casa. Mais: resolvi fazer um prolongamento extraordinário das férias e demo-nos ao luxo de jantar. Dois bijus, um para cada.
As minhas férias ficaram-me por 10,65 euros. Ora portanto, 24 cêntimos dos dois pães do almoço, dez euros de dois andantes Z5 (cartões incluídos) para as viagens Matosinhos-Póvoa de Varzim e Póvoa de Varzim-Matosinhos, mais os 24 cêntimos dos papos-secos do jantar, uma extravagância, e 17 cêntimos da chamada para a vizinha. Total: 10,65 euros, com todas as taxas incluídas. Um bocado puxado, é verdade, e não dá para descontar no IRS, mas é uma questão de nos organizarmos durante o resto do ano. O que é preciso é saber fazer "uma boa aplicação dos recursos" que temos, como filhodaputamente dizia, no seu tempo de troika, o então alegado primeiro-ministro.
A minha mulher ainda quis ir a uma agência de viagens, para ver se a coisa nos saía mais em conta. Como se nós fôssemos uns necessitados! Mandei-a dar uma volta e ela passou as férias todas sem me falar.
A propósito de férias: as únicas pessoas que eu e a minha mulher conhecemos que nunca foram ao Brasil somos nós os dois. Mas já está resolvido: para o ano, se Deus quiser, vamos outra vez à Póvoa...
A Póvoa estava cheia, como costuma acontecer nesta época do ano, certamente por causa do tempo. Mas há cada vez mais andares e apartamentos para vender e quartos por alugar, de acordo com os letreiros. A língua oficial da Póvoa de Varzim, entre os meses de Junho e Agosto, é o francês com caralhos no meio. Eu e a minha mulher foi como se estivéssemos no estrangeiro, embora com caralhos no meio, e ainda há um bocadinho tínhamos saído de Matosinhos. Por falar nisso, liguei à vizinha para saber se estava tudo bem. E estava.
Aproveitámos as férias em cheio. Olhámos para o casino e para o Cego do Maio, fomos espreitar as montras com bolos, a praia, os banhos e as banhas. Fomos às piscinas, ao museu, à biblioteca, à praça de toiros e ao estádio, sempre pelo lado de fora, para não incomodar. Não percebo quem diz que não tem dinheiro para ir de férias. Eu e a minha mulher fomos e às 17h45 já estávamos outra vez em casa. Mais: resolvi fazer um prolongamento extraordinário das férias e demo-nos ao luxo de jantar. Dois bijus, um para cada.
As minhas férias ficaram-me por 10,65 euros. Ora portanto, 24 cêntimos dos dois pães do almoço, dez euros de dois andantes Z5 (cartões incluídos) para as viagens Matosinhos-Póvoa de Varzim e Póvoa de Varzim-Matosinhos, mais os 24 cêntimos dos papos-secos do jantar, uma extravagância, e 17 cêntimos da chamada para a vizinha. Total: 10,65 euros, com todas as taxas incluídas. Um bocado puxado, é verdade, e não dá para descontar no IRS, mas é uma questão de nos organizarmos durante o resto do ano. O que é preciso é saber fazer "uma boa aplicação dos recursos" que temos, como filhodaputamente dizia, no seu tempo de troika, o então alegado primeiro-ministro.
A minha mulher ainda quis ir a uma agência de viagens, para ver se a coisa nos saía mais em conta. Como se nós fôssemos uns necessitados! Mandei-a dar uma volta e ela passou as férias todas sem me falar.
A propósito de férias: as únicas pessoas que eu e a minha mulher conhecemos que nunca foram ao Brasil somos nós os dois. Mas já está resolvido: para o ano, se Deus quiser, vamos outra vez à Póvoa...
P.S. - Publicado originalmente no dia 23 de Agosto de 2013. Naquele
tempo as minhas férias eram isto, e há oito anos que nem isto são.
Entretanto, com a pandemia e sem os velhos ingleses, o Algarve
descobriu que Portugal tem portugueses, os quais até serão desejados e
bem-vindos ou bem-idos, consoante, agora que não há perigo de andarem a
cheirar a chulé e a tirar carranhas do nariz à beira dos sofisticados
turistas estrangeiros calçados de meias e sandálias. Fazem-se apelos
patrióticos e de salvação nacional, das autoridades locais ao Presidente
da República: todos para o Algarve, rapidamente e em força! Os portugueses devem, em todo o caso, aprender a falar
inglês, para que o Algarve os entenda. Eu e a minha mulher abstemo-nos, ficamos cá por cima. Nós teremos sempre a
Póvoa...
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